segunda-feira, janeiro 28, 2013

Apontamentos

Digamos que costumo votar à esquerda.

Votei, por uma vez, na Direita: José Coelho, para Presidente da República.

Ultrapassado este ponto, como em tantas coisas na minha vida, há algo de errado.

Vou falar do Partido Socialista.

Os respectivos militantes e boa parte da população votante em Portugal vê em António Costa um messias. Não percebo bem porquê. O meu principal problema com António Costa (diria mesmo único problema) é não saber bem por que razão é tão aclamado. Em que é que se distinguiu? Em que área política foi forte? O que fez? Como se destacou?

Não sei responder a isto.

Em Lisboa, não tem acertado. No Governo, dava boa imagem, mas, cá está, sem perceber bem porquê.

Há nele todos os sonhos do mundo português.

Isto só para apresentar a seguinte conclusão: Costa, que respeito, sublinhe-se, está para mim como o arroz de cabidela está para o paladar luso. Quem gosta, come bem, mas quem não gosta não se farta de perguntar "por que raio comes tu isso?" ao seu próximo.


sábado, janeiro 26, 2013

Perceber


Por que razão me lembro disto?

Anda cinzento o tempo. Chove.

Alia-se tudo à falta de forma mental.

Até que se chega aqui e está perfeito. Uma grande composição.

Balanço, puri.







sexta-feira, janeiro 25, 2013

Vem cá, José Manuel

Tendo sido intempestivo no envio de "curricula", paguei o preço na inexperiência.
Calhou-me a fava.
Entro, naquele fatídico dia, no sitio onde hoje, mais ou menos, estou. A conversa...a conversa só fazia prever o que dali viria, veio, vem e virá. Devia ter havido, da minha parte, mais sagacidade na percepção do que me esperava.
O problema, sempre o problema, é a falta de alternativas. A questão é parecida com a do custo de oportunidade, sempre ilustrada com o industrial da restauração.

Hoje, sou um bocado esse fulano que tem um tasco aberto, cujas receitas cobrem as despesas, num infernal break-even, que não permite tirar, seja o que for, para mim.

Porque é que não saio?

Porque não há para onde ir.

Como o homem do restaurante.


quinta-feira, janeiro 24, 2013

Contributo

Desde já o meu obrigado.

Aqui fica aquilo que procurei, não encontrei, mas foi, gentil e oportunamente, fornecido.



Quatro sonetos a Afrodite Anadiómena

I

PANDEMOS


Dentífona apriuna a veste iguana
de que se escalca auroma e tentavela.
Como superta e buritânea amela
se palquitonará transcêndia inana!

Que vúlcios defuratos, que inumana
sussúrica donstália penicela
às trícotas relesta demiquela,
fissivirão boíneos, ó primana!

Dentívolos palpículos, baissai!
Lingâmicos dolins, refucarai!
Por manivornas contumai a veste!

E, quando prolifarem as sangrárias,
lambidonai tutílicos anárias,
tão placitantos como o pedipeste.


II

ANÓSIA


Que marinais sob tão pora luva
de esbanforida pel retinada
não dão volpúcia de imajar anteada
a que moltínea se adamenta ocuva?

Bocam dedetos calcurando a fuva
que arfala e dúpia de antegor tutada,
e que tessalta de nigrors nevada.
Vitrai, vitrai, que estamineta cuva!

Labiliperta-se infanal a esvebe,
agluta, acedirasma, sucamina,
e maniter suavira o termidodo.

Que marinais dulcífima contebe,
ejacicasto, ejacifasto, arina!...
Que marinais, tão pora luva, todo...


III

URÂNIA


Purília emancivalva emergidanto,
imarculado e róseo, alviridente,
na azúrea juventil conquinomente
transcurva de aste o fido corpo tanto...

Tenras nadáguas que oculvivam quanto
palidiscuro, retradito e olente
é mínimo desfincta, repente,
rasga e sedente ao duro latipranto.

Adónica se esvolve na ambolia
de terso antena avante palpinado.
Fimbril, filível, viridorna, gia

em túlida mancia, vaivinado.
Transcorre uníflo e suspentreme o dia
noturno ao lia e luçardente ao cado.


IV

AMÁTIA


Timbórica, morfia, ó persefessa,
meláina, andrófona, repitimbídia,
ó basilissa, ó scótia, masturlídia,
amata cíprea, calipígea, tressa

de jardinatas nigras, pasifessa,
luni-rosácea lambidando erídia,
erínea, erítia, erótia, erânia, egídia,
eurínoma, ambológera, donlessa.

Áres, Hefáistos, Adonísio, tutos
alipigmaios, atilícios, futos
da lívia damitada, organissanta,

agonimais se esforem morituros,
necrotentavos de escancárias duros,
tantisqua abradimembra a teia canta.

Jorge de Sena

In the mood

Pesquisas

Em conversas, foi-me dito que existe um poema de Jorge de Sena composto, inteiramente, de palavras inventadas. Eis que fui à procura do dito.

Não o encontrei.

Mas dei de caras com isto.

A Canalha

Como esta gente odeia, como espuma
por entre os dentes podres a sua baba
de tudo sujo nem sequer prazer!
Como se querem reles e mesquinhos,
piolhosos, fétidos e promíscuos
na sarna vergonhosa e pustulenta!
Como se rabialçam de importantes,
fingindo-se de vítimas, vestais,
piedosas prostitutas delicadas!
Como se querem torpes e venais
palhaços pagos da miséria rasca
de seus cafés, popós e brilhantinas!
Há que esmagar a DDT, penicilina
e pau pelos costados tal canalha
de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,
tratá-los como lixo de oito séculos
de um povo que merece melhor gente
para salvá-lo de si mesmo e de outrem.

7 de Dezembro de 1971


Por mim, está bem.

Ou, por outra, "muito bem", citando Gaspar.

Do aspecto

O blogue conhece muitas constantes.

A falta de leitores.

(Consequentemente), A falta de comentários.

O template.

Ora, vamos lá amputar parte desta santíssima trindade.

Está, oficialmente, mudado o template.

quarta-feira, janeiro 23, 2013

Num escritório

Para se ser advogado, deve fazer-se um estágio.

Actualmente, esse estágio demora cerca de 3 anos, um pouco menos se, como se diz na gíria, "correr tudo bem".

Quando me iniciei nas lides da advocacia, comecei por procurar um escritório que me acolhesse. O estágio postula várias formalidades e a principal é a existência de um patrono que, supostamente, acompanha, dirige, aconselha. Digo "supostamente" porque existe, no papel, essa obrigação. (Porém, na prática, um patrono é só um patrão que espera que o ofício esteja aprendido desde a barriga da progenitora. Podemos ter a sorte de perceber do assunto como um só "olhadela", e aí a coisa corre de feição, ou então, se todos forem como eu, de compreensão muito lenta, temos um problema.)

Como eu, no escritório, quando entrei, havia 4 estagiários. Duas senhoras e dois senhores, comigo incluído.

A primeira pessoa que me estendeu a mão e falou de igual para igual foi, na passada Segunda-Feira, prestar provas orais de agregação. Reprovou.

Daqueles 4, eu e o outro senhor fomos bem sucedidos, a senhora supra referida vai repetir a prova oral e a quarta, por razões burocráticas, ainda se vai apresentar a exame escrito.

Tudo o que está escrito supra não tem qualquer valor para o que me leva a escrever estas linhas.

Recentemente, outras estagiárias entraram no escritório onde estou.

O "Patrono", entrando no gabinete onde estava uma das novas estagiárias, depois de 30 segundos de conversa da treta, entra no assunto da reprovação.

A miúda nova, que irá ter um grande futuro no escritório, muito admirada, dizia que não entendia como é que a presidente do Júri que chumbou a colega tinha sido tão má, uma vez que era sua formadora na Ordem.

O "Patrono", cheio de si, respondeu que o problema não tinha sido do júri. O problema tinha sido a examinada, que não sabia, não fazia, não, não, não, um monte de "nãos", seguidos de notas pessoais em tons de nojo e depreciação.

Não a defendeu. À frente de um projecto de causídica, o "Patrono" deixou cair um seu outro projecto em forma de estagiário.

Há quem não valha nada.


quinta-feira, janeiro 03, 2013

E não pára.

Vésperas de Nada

Aniversário
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!..
.

O mundo laboral explicado ao povo e às crianças

(A história que se segue foi-me contada numa versão bem mais abreviada. Decidi alongar, para dar um enquadramento mais capaz)

Tudo se passa numa casa absolutamente normal, no seio de uma família tradicional. Como todas as outras, a família desta história também tinha que "fazer o tacho".
Uma vez que a imaginação não abundava, as refeições eram, frequentemente, as mesmas: carne assada com massa, carne assada com arroz ou carne assada com puré.
O agregado familiar era composto por pai, mãe e filho. O petiz, recente nestas coisas, foi enjoando o manjar até que, um dia, cheirando o hábito vindo da cozinha, perguntou ao seu velho:
- Oh pai, o que é o jantar?
Respondeu o pai:
- Carne assada, filho.
Irritado com o remake daquele pouco suculento filme de terror, o jovem não vai de modas e grita:
- NÃO GOSTO DE CARNE ASSADAAAAAAAA!
O sócio sénior previu aquele dia. Olhou para o seu rebento, respirou fundo e, com toda a calma da margem sul, pediu ao jovem que pusesse o dedo indicador direito dentro do lado direito da boca e o dedo indicador esquerdo do lado esquerdo da boca, ambos dobrados, a formar um pequeno gancho, cada gancho puxando para seu lado.
O filho achou piada ao exercício, quanto mais não fosse porque parecia que estava a fazer uma careta.
O pai pediu ao menor que mantivesse a dita careta e proferisse a frase chave: "não gosto de carne assada":
- Naum gochto de caaane achada" - Disse.
- Então come merda. - Replicou o pai.

No mundo laboral, quando estamos sujeitos às ordens de um sabujo qualquer que é patrão, isto acontece que uma frequência indesejada.

E olhem que até gosto de carne assada.