segunda-feira, dezembro 15, 2014

Espírito Santo

Numa rábula mágica do Herman Enciclopédia, imagina-se o que seria uma recriação do "Juiz Decide" em que os "litigantes" são o Menino Jesus e o Pai Natal.

No final, o Pai Natal perde, uma vez que não existe. Em termos técnicos isto chama-se excepção dilatória por falta de personalidade jurídica e, portanto, judiciária. Efeito: absolvição da instância.

Adiante.

Apesar do desfecho desfavorável, os atores processuais cumprimentam-se e o Menino convida o Pai Natal para ir lá jantar a casa, por conta do Espírito Santo. O Pai Natal pergunta se também não existem negócios com o Jardim Gonçalves.

Quando olho para Ricardo Salgado, sempre presumindo a sua inocência e verdade no que alega, lembro-me dos milhões de trocadilhos que se podem fazer com as palavras "Espírito Santo". Aqui há dias, não vi trocadilhos, lembrei-me de algo. Percebi, se assim se quiser.

Esta altura do ano fez entrar uma frase na minha cabeça: "se tivesse tempo e dinheiro, andava sempre e gastava tudo nos médicos".

Tristemente, este tem sido o meu mantra. Especialmente desde o começo do fim-de-semana.

Para mim, nada seria mais reconfortante do que fazer todos os exames possíveis e imaginarios às mais ínfimas partes do corpo.

Mas, melhor mesmo, seria passar uma hora por semana (quiçá duas) num gabinete psiquiátrico a falar da vida.

Só falar, despejar. Tudo a ser ouvido por uma parte imparcial que tomava notas, dava dicas e receitava comprimidos, os quais cuja toma iria negligenciar.

O meu ideal de dia seria acordar, ir para um ginásio privativo durante uma hora, já depois de ter tomado o pequeno almoço e lido as gordas dos jornais. Depois do ginásio, as consultas e exames. Análises ao sangue, urina, fezes e auscultação. Semana sim, semana não, análise ao escarro. Raio-x, TAC.

O almoço era elaborado por alguém que eu nunca iria conhecer e que faria algo supreendente, estando vedada a confecção de peixe cozido.

Depois de almoço, iria litigar. Dar pareceres. Essas coisas.

Depois, ao fim da tarde, psiquiatria para cima. Uma hora de palranço do mais chato e infeliz.

Jantar nos mesmos moldes do almoço.

Cinema.

Cama.

Desviei-me um bocado da rota.

Natal, não era? No que o Ricardo Salgado me levou a pensar.

Enfim, está aí a época.

Não há muitos anos começava a sonhar com o reencontro da minha família. Muitos deles são velhotes desde que me lembro. Mas ainda assim. Nunca fui avesso a pessoas idosas, pelo contrário. Sobretudo àqueles que passavam o Natal comigo devo quase tudo o que sou.

Hoje parece que cresci. A 10 dias do Dia de Natal só me consigo lembrar do que me falta.

Faltam pessoas centrais. Falta, curiosamente, alguma paz.

Vou voltar ao Herman, uma vez que comecei com ele. Lembrei, já neste blog, uma entrevista que ele deu a um programa chamado "Baseado num histórica verídica", em que dizia que a vida dos pobres é uma seca, que não seria, sequer, parecida à do Ricardo Salgado (sempre ele), onde se falaria de cavalos, affairs com chauffers e por aí fora.

Não vou concluir.