quarta-feira, julho 08, 2015

À beira

Estou quase com 30 anos.

A este respeito, lembrei-me de uma questão que me é colocada há décadas (sim, há décadas): "por que razão não gostas de fazer/celebrar o teu aniversário?"

Já o disse dezenas de vezes. Agora, fica escrito e, so help me god, vou colocar uma "etiqueta" (tag) no fim. Para me lembrar. Para servir de remissão.

Que sentido tem festejar a mediocridade? Tenho quase 30 anos e sou um trabalhador de segunda, desprezado, ignorado, tantas vezes vilipendiado, desonrado.

Que sentido tem festejar a data? Tenho quase 30 anos e, lembrando os factos supra expostos, nem por isso ganho melhor, sequer bem, não tenho o dinheiro para viver o que queria nem para fazer coisas por quem gostava.

Que sentido tem ouvir a canção dos parabéns? Quando morrer, serei uma vírgula na história, um nada, um ninguém, uma alma inominada que serviu e mal.

Porquê pensar diferente? Tirei um curso massificado, não estou com idade nem vida para mudar, não ingressei na carreira que queria, trabalho, há quase 6 anos, num sitio onde filho meu nunca porá os pés.

Mas e então não é engraçado celebrar o meu nascimento? Acredito que sim, para as poucas pessoas que gostam de mim. Isso não me inclui a mim. Trocava a minha pela vida de qualquer pessoa. Odeio o que faço. Odeio ainda mais com quem faço.

Ao fim e ao cabo, percebo que o meu problema é a situação profissional. Que me mata.

Mas, claro, a culpa é toda minha. Não estou disposto a abdicar do que tenho em troca de paz. Porque se abdicar, tão cedo não arranjo ocupação. Porque se abdicar, desisti.

Mas, à beira dos meus 30 anos, é isto.

Estudei para ter uma carreira melhor do que a que tenho. A minha carreira não existe.

Deixei de sair à noite para poder descansar para um exame no dia seguinte. Se fosse hoje, até fortemente alcoolizado teria ido fazer o exame.

Deixei de fazer uma tese de mestrado porque estava a trabalhar e, quando vi que não chegava para as encomendas, até porque também tinha a agregação à O.A metida ao barulho, escolhi o trabalho. Devia ter saído daqui e começava de novo.

Mas não.

Tenho 30 anos e nem o respeito próprio alcancei.

Se tudo correr bem, esse dia fatídico será passado longe desta corja com quem coexisto 10 horas por dia.